Escola se faz assim, com a colaboração entre os pares. Hoje
foi a vez de participar da aula de Língua Portuguesa, contar algumas façanhas -
sim façanhas da vida real - numa pequena crônica narrativa apresentada aos alunos dos 9ºs anos do professor Márcio Silva.
Nos preparativos de uma tão esperada viagem, perguntava-me
a cada instante: será que vou? Também era a pergunta feita pela família: vai
mesmo? Sim, vou. Decidida coloquei meus medos e inseguranças à prova - minha
prova -, afinal ninguém faz planos para as coisas darem errado, ninguém faz as
malas para ir à praia e desembarca no deserto, este seria o curso natural das
coisas. Em mãos as malas e apetrechos,
necessários e desnecessários, parti para uma jornada planejada de lazer e
estudos. Muito lazer, uma vez que tudo que faço e nas pretensões que sempre
tive, é de viver e aprender preferencialmente pelo amor, pela alegria e
especialmente em boa companhia, um jeito próprio de fugir de qualquer espécie
de sofrimento.
Viagem iniciada, muitas
conversas e fotos. Algumas paradas para uma viagem que teria bem calculadas
quarenta e oito horas de estrada. Tudo
acontecia como o planejado até o momento em que de mim foi retirado o que me
identificava num país estranho. Um furto virou minha cabeça e minha vida de
pernas para o ar, não diferentemente aconteceu com as pessoas que me
acompanhavam. Eu, sem lenço nem documentos, eles sem a minha companhia e
desnorteados.
Retida num país distante, um
pouco do que vivi... momentos de alegria, momentos de cansaço, muitos momentos
de pânico e grande momento de alívio quando cheguei em casa, sã e salva. Muita gente sensível e
solidária, preocupada e sem respostas a muitos questionamentos. Vazio, esta era
a sensação, um grande vazio. Chorei? Se a sensação de nó apertando o pescoço e
dificultando engolir a saliva, uma pressão no peito dificultando a respiração,
uma gota de água rolando do canto esquerdo do olho é chorar, então chorei.
Mas eu não estava
só, estava com Deus, uma família em angústia e ajudando à distância no Brasil,
além de uma comitiva de cinquenta e quatro passageiros desse ônibus
sensibilizados com a situação e uma grande corrente positiva e de fé em meu
favor. A riqueza de detalhes - de terror e humor - poderão até um dia ser descritos.
Aqui, porém, registro o essencial: um percurso inusitado de um restaurante a
uma delegacia, de uma Aduana à outra na noite escura com nevasca na Cordilheira
dos Andes, do descaso das autoridades Argentina, Chilena e Consulado
Brasileiro, do medo do avião, do problema mecânico do ônibus em Santa Catarina.
De tudo isso, muitas lições... As principais? Valorizar mais a família, os
amigos, não perder a fé e esperança e, mais do que nunca, seguir a vida!
Cássia Maris Wilbert Souzo
Cássia Maris Wilbert Souzo